O capitalismo como sistema econômico, político e social dominante surgiu muito lentamente, em um período de vários séculos, primeiro na Europa Ocidental e, depois, em grande parte do mundo. À medida que surgia, as pessoas buscavam compreendê-lo.
Antes de tudo, é preciso deixar claro que um sistema econômico é definido segundo o modo de produção no qual se baseia. O modo de produção, por sua vez, é definido pelas forças produtivas (ferramentas, implementos, máquinas e prédios usados na produção) e pelas relações sociais de produção. Mais importante ainda é que os seres humanos, que fazem o esforço necessário para assegurar a disponibilidade das matérias-primas e para transformá-las em produtos acabados, devem ter uma quantidade mínima de alimentos, roupas, moradia e outros bens necessários à vida em sociedade.
Os modos de produção que não satisfazem a essas necessidades mínimas de produção contínua desaparecem. E os modos de produção que se mantêm por muito tempo, significa que conseguiu produzir não apenas o suficiente para atender às necessidades mínimas, mas também um excesso, ou excedente social, além dos custos necessários.
Dessas sociedades existentes por muito tempo, o excedente social sempre teve uma curva crescente. Dentro dessa evolução histórica, cada sociedade tem sido dividida, de modo geral, em dois grupos separados: os que produzem e os que controlam.
Nesse contexto, será utilizado como base o livro História do Pensamento Econômico, de E.K. Hunt e Mark Lautzenheiser, para analisar as principais características do capitalismo. Segundo Hunt, o capitalismo é caracterizado por quatro conjuntos de arranjos institucionais e comportamentais: produção de mercadorias, orientada para o mercado; propriedade privada dos meios de produção; um grande segmento da população que não pode existir, a não ser que venda sua força de trabalho no mercado; e comportamento individualista, aquisitivo, maximizador, da maioria dos indivíduos dentro do sistema econômico. Cada uma dessas características será discutida brevemente.
No capitalismo, o valor dos produtos do trabalho humano é dado por duas razões distintas.
Primeiro, os produtos possuem características físicas particulares, por conta disso tornam-se utilizáveis e satisfazem às necessidades humanas. Quando uma mercadoria é avaliada por seu uso na satisfação das nossas necessidades, diz-se que ela tem valor de uso. E na medida em que os produtos têm valor, porque podem ser trocados por moeda, diz-se que eles têm valor de troca.
A produção de mercadorias não é uma busca de satisfação de necessidades. É um meio de obter moeda pela troca de produtos por moeda, que, por sua vez, pode ser utilizada na compra dos produtos desejados por seu valor de uso. Nessas condições, os produtos do trabalho humano são mercadorias, e essa sociedade capitalista é caracterizada como voltada para a produção de mercadorias.
A segunda característica definidora do capitalismo é a propriedade privada dos meios de produção. Isso significa que a sociedade dá a certas pessoas o direito de determinar como matérias-primas, ferramentas, maquinaria e prédios destinados à produção podem ser usados. No entanto, no decorrer da história percebe-se que essa característica foi se alterando.
De fato, a terceira característica definidora do capitalismo é que muitos produtores não são proprietários dos meios necessários para a execução de sua atividade produtiva. A propriedade se concentra num grupo pequeno da sociedade - os capitalistas. Um capitalista não precisava representar nenhum papel direto no processo produtivo, de modo a controlá-lo; a propriedade lhe dava esse controle. E essa propriedade foi o que permitiu ao capitalista apropriar-se do excedente.
Dessa forma, a propriedade dos meios de produção é a característica do capitalismo que confere à classe capitalista o poder pelo qual controla o excedente social, estabelecendo-se, a partir daí, como classe social dominante.
E essa dominação, enfim, é a terceira característica definidora do capitalismo - a existência de uma numerosa classe trabalhadora, que não tem qualquer controle sobre os meios necessários para a execução de suas atividades produtivas.
Como efeito, o capitalismo cria uma característica até então única na história: faz da força produtiva humana uma mercadoria e gera um conjunto de condições pelas quais a maioria das pessoas não pode viver, a não ser que sejam capazes de vender a mercadoria de que são proprietárias - a força de trabalho - a um capitalista, em troca de um salário. E esse salário nunca será igual ao valor de sua produção, essa diferença é o excedente social que é retido e controlado pelos capitalistas.
A quarta e última característica do capitalismo é a de que a maioria das pessoas são motivadas por um comportamento individualista, aquisitivo e maximizador. Essa mentalidade é fundamental para que o sistema continue funcionando. Primeiro para garantir a oferta necessária ao trabalhar e facilitar seu controle, dessa forma o excedente gerado será muito superior às mercadorias ofertadas aos trabalhadores.
Conforme o capitalismo foi se desenvolvendo, a produtividade também continuou aumentando. Como os trabalhadores eram maioria, eles começaram a se organizar coletivamente em sindicatos e associações, buscando por melhores salários. O final do século XIX e início do século XX foi marcado por grandes mudanças no relacionamento e condições de trabalho.
Desde então, o poder de compra do salário do trabalhador vem crescendo lenta e firmemente. No lugar da privação física generalizada, o capitalismo recorre cada vez mais a novos tipos de motivação, para manter a massa dos trabalhadores produzindo o excedente social. E.K Hunt afirma que um novo ethos social, às vezes chamado consumismo, tornou-se dominante. Caracteriza-se pela crença de que mais renda, por si só, sempre significa mais felicidade.
Esse mundo competitivo e economicamente inseguro no qual se movem os trabalhadores cria sentimentos subjetivos de ansiedade, solidão e alienação. A maioria dos trabalhadores vê como causa desses sentimentos sua própria incapacidade de comprar mercadorias suficientes para fazê-los felizes.
No entanto, conforme recebem salários maiores e seu poder de compra aumenta, verificam que o sentimento geral de insatisfação e ansiedade continua. Com isso, a motivação dos trabalhadores será sempre de trabalhar cada vez mais, sonhando que em algum momento o salário será compensatório para alcançar a máxima felicidade através do consumo.
Além disso, essa motivação serve somente para alimentar a fé no potencial trabalho e em produzir e maximizar a mais-valia.
Finalizando, o capitalismo possui diversas interpretações. Marx, Smith, Lênin e diversos outros pensadores analisam o capitalismo de vários pontos de vistas diferentes. Diante disso, quatro características são comuns em quase todas as análises dos teóricos citados e somente essas que compartilhamos nesse artigo. Como mostra o título, essa é uma análise básica sobre a definição de capitalismo e tem por único objetivo criar a reflexão no leitor sobre o sistema em que vivemos de forma técnica e sem grandes aprofundamentos.
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